No mundo dos negócios, a reputação é um dos maiores ativos de uma empresa. Uma imagem sólida e confiável não se constrói apenas com bons produtos ou serviços, mas também com condutas éticas e juridicamente corretas. Nesse cenário, a área criminal ganhou relevância crescente para a governança corporativa, especialmente porque processos criminais podem abalar a credibilidade da empresa perante clientes, parceiros, investidores e a sociedade como um todo.
O impacto de processos criminais na reputação empresarial
O simples fato de uma empresa ou de seus dirigentes figurarem em processos criminais já pode trazer consequências devastadoras: perda de contratos, queda no valor de mercado, prejuízo à confiança de consumidores e até mesmo dificuldade em acessar crédito. Independentemente do resultado final do processo, o “julgamento social” e midiático ocorre de forma imediata e, muitas vezes, irreversível.
O marco da Ação Penal 470 e a mudança de paradigma
Até o advento da Ação Penal nº 470 do Supremo Tribunal Federal – popularmente conhecida como “Mensalão” – o ambiente corporativo brasileiro demonstrava pouca preocupação com a esfera penal. Esse julgamento, no entanto, foi um divisor de águas. A partir dele, consolidou-se a aplicação da Teoria do Domínio do Fato, que permitiu responsabilizar penalmente gestores e dirigentes que, mesmo não executando diretamente os ilícitos, tinham poder de decisão e controle sobre os atos praticados.
Esse precedente trouxe às empresas a consciência de que não basta adotar uma postura passiva: é necessário atuar de maneira preventiva para reduzir riscos.
Consultoria criminal como ferramenta estratégica
A consultoria criminal empresarial tornou-se, assim, uma ferramenta essencial. Entre os pontos de maior destaque, podemos citar:
- Análise prévia de contratos e parcerias: prevenir cláusulas ou práticas que possam configurar ilícitos penais.
- Compliance e governança corporativa: estruturar políticas internas que evitem práticas como corrupção, lavagem de dinheiro, fraudes e crimes ambientais.
- Treinamento e conscientização: capacitar gestores e colaboradores para identificar riscos e agir de acordo com a legislação penal.
- Mapeamento de riscos: identificar pontos vulneráveis da atividade empresarial que possam ensejar responsabilização penal.
Pequenas e médias empresas: Atenção redobrada
Se grandes corporações já perceberam a importância do compliance criminal, pequenas e médias empresas muitas vezes ainda subestimam esse aspecto. Ocorre que, em empresas menores, os efeitos de um processo criminal podem ser ainda mais devastadores, a ponto de comprometer sua sobrevivência. Nesse sentido, a consultoria criminal é não apenas um diferencial, mas um verdadeiro escudo de proteção à atividade empresarial.
Conclusão
Manter a boa reputação de uma empresa exige atenção muito além do marketing ou da qualidade dos serviços prestados. Envolve a adoção de práticas jurídicas sólidas e preventivas. A partir da experiência histórica da Ação Penal 470 e da consolidação da Teoria do Domínio do Fato, ficou claro que a responsabilização penal alcança diretamente os gestores e, indiretamente, toda a estrutura empresarial.
Por isso, investir em consultoria criminal preventiva é essencial, sobretudo para pequenas e médias empresas, que dependem fortemente da confiança de seus clientes e parceiros. Mais do que evitar problemas, trata-se de garantir perenidade, segurança e credibilidade no mercado.
Escrito por Dr. Alisson Silva Garcia – Advogado Criminalista Parceiro – Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo (2010). Pós-graduado em Direito de Família e Sucessões (ESA/SP) e em Prática Penal Avançada (Ibmec-SP/Damásio) e mestre em Ciências Criminológico-Forenses pela Universidad de la Empresa (UDE). Fundador do escritório Alisson Garcia Advocacia, iniciou sua carreira como sargento da Polícia Militar e professor de Direito Penal e Processual Penal. Foi assessor jurídico do Escritório Escola da FDSBC, com forte atuação prática e comunitária. Atua também como julgador do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/SP e é ex-presidente da Comissão de Igualdade Racial e de Gênero da OAB São Bernardo do Campo, cargo que exerceu com destaque entre 2023 e 2024, promovendo iniciativas pioneiras no combate à desigualdade.
Publicado em 14 de outubro de 2025